A influência é missão e ferramenta do líder. Em qualquer área de nossas vidas, não conseguiremos êxito relevante a não ser que envolvamos outras pessoas na mesma visão, ao ponto do comprometimento.
“E lhes declarei como a boa mão do meu Deus estivera comigo e também as palavras que o rei me falara. Então, disseram: Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra.” (Neemias 2:18)
Todos nós fomos chamados a liderar! Dizer isso é lugar comum em nosso meio. Já temos sido consolidados nesta verdade ao longo de anos. Se reconhecemos que a ordem para pregar o evangelho e fazer discípulos é universal, para todos os crentes, não temos como escapar à missão de liderar, basicamente porque liderar é influenciar. Ora, não se conduz ninguém à salvação, muito menos ao discipulado, sem exercer a arte da influência.
Além disso, em outras esferas da nossa vida precisamos assumir a responsabilidade de conduzir pessoas, seja no trabalho, na família ou simplesmente em nossas relações sociais. Sendo assim, há uma necessidade premente de aprendermos o exercício da influência.
A influência é missão e ferramenta do líder. Em qualquer área de nossas vidas, não conseguiremos êxito relevante a não ser que envolvamos outras pessoas na mesma visão, ao ponto do comprometimento. Em outras palavras, nossas melhores realizações não serão alcançadas até que convençamos outros a lutarem ao nosso lado pelas mesmas causas.
Neemias emerge da história bíblica como um dos melhores modelos de líder/influenciador. Embora ele devesse ter certa dose de carisma pessoal, seu sucesso não se baseou nisto, mas numa série de posturas que redundaram em confiança e motivação na alma do povo com o qual ele contava para a grande obra da reconstrução dos muros de Jerusalém. Ele é, dos personagens bíblicos, um dos que mais têm a nos ensinar a esse respeito.
Esse homem concebeu em seu coração uma grande visão. Estando numa zona de conforto, como homem de confiança do rei persa Artaxerxes, deixou tudo para trás e partiu para Jerusalém a fim de realizar a grande obra. Entretanto, sua missão não cabia no âmbito pessoal. Era preciso levantar um povo que cresse na mesma coisa, a ponto de comprometer-se com a tarefa que envolvia muito trabalho e não poucos riscos, uma vez que a cidade estava destruída e os inimigos não queriam a sua restauração.
O sucesso de Neemias se deu, não porque ele fosse um super-homem, mas porque ele foi capaz de converter um povo à sua visão, fazer de uma gente acomodada e desistida, um exército de reconstrutores altamente comprometidos com a causa.
Quando reflito sobre a postura e as atitudes que conduziram Neemias a tão grande sucesso, algumas coisas me chamam a atenção. A primeira delas é que homens de influência são movidos por uma paixão e não simplesmente por um encargo ou estratégia. Antes de sair para sua missão, antes mesmo de imaginar qualquer ação, Neemias se derrama em lágrimas diante do Senhor, ao saber do estado deplorável em que viviam seus irmãos na Terra Santa (conf. Ne 1:3). O que quero dizer é que a visão nasceu no coração deste homem e não em sua mente, conquistou primeiro os seus sentimentos para depois conquistar a sua razão.
Fico observando as diferenças entre os líderes influenciadores e os que vivem remando contra a maré e percebo que aqui está uma das chaves. Aqueles que são movidos apenas por responsabilidade ou constrangimento têm fôlego curto, enquanto os apaixonados, não apenas tendem a ser indesistíveis, como também se revelam muito mais convincentes diante daqueles que precisam despertar e envolver.
Aqui cabe uma pergunta: no âmbito da liderança que você exerce hoje, o que lhe move é o coração ou a responsabilidade? Você ama seu ministério ou simplesmente o aceita? A visão é para você um combustível ou uma carga? Se sua resposta é a segunda opção, é melhor buscar uma experiência com Deus a esse respeito, pois assim, sem paixão, dificilmente você será um líder de influência e, por conseguinte, de sucesso.
Outro aspecto que me impressiona na vida de Neemias é sua capacidade de planejar. Embora a necessidade de agir urgisse em seu coração, a ponto de desfigurar-lhe o semblante (conf. Ne 2:2), esse homem não se precipitou em momento algum, não colocou o carro à frente dos bois. Entre o dia em que seu coração foi conquistado pelo desejo de reerguer Jerusalém e o dia em que ele pediu permissão e respaldo ao rei Artaxerxes, seu líder, para cumprir aquela missão, passaram-se quatro meses. Não era indolência, nem tampouco covardia. Neemias usou o tempo, de dezembro a abril, numa incessante busca de oração e jejum, além de ocupar-se com o planejamento estratégico de sua tarefa. Quando o rei lhe dá a chance de manifestar-se, ele tem a convicção, o roteiro, a lista de necessidades e o prazo definido para alcançar sua meta (conf. Ne 2:3-8). Agora não era só uma paixão, era uma visão!
Muita gente confunde ímpeto com improviso e por isso fracassa. Líderes que não aprendem a arte de “esperar confiantemente no Senhor”, com muita facilidade queimam etapas no afã de verem as coisas acontecendo. Há tempo para todo propósito debaixo do sol... Precisamos respeitar os processos de maturação de uma visão, assim como entender muito bem como vamos desempenhá-la, antes de sairmos para a tarefa de influenciar outros. Se soubermos o que fazer e estivermos sincronizados com o kairós de Deus, nossa probabilidade de sucesso será bem maior.
Além de ser apaixonado pela visão que recebera de Deus e de revelar uma alta capacidade de planejamento, Neemias deveu seu êxito à humildade de cercar-se de toda cobertura disponível. Tendo concebido a visão, tendo buscado seriamente a Deus com jejuns e lágrimas, tendo calculado da maneira mais exata possível os custos e necessidades de sua missão, ele aguardou o momento certo de buscar no rei Artaxerxes o respaldo que precisava (conf. Ne 2:1-9).
Alguns podem imaginar que essa postura de Neemias se deveu apenas ao fato de que ele fosse uma espécie de escravo e, portanto, não tivesse como voltar a Jerusalém se isso não lhe fosse permitido pelo rei. De certa forma é verdade, mas eu vejo muito mais do que uma sujeição compulsória na postura deste homem. Ele buscou mais do que a permissão de Artaxerxes. Buscou sua cobertura e respaldo. Ao pedir que o rei lhe desse cartas e material para a obra (conf. Ne 2:7-8), estava na verdade querendo agregar à sua bagagem ministerial o poder de alguém que era maior que ele.
Este é um princípio importante e muito pouco entendido. Geralmente as pessoas pensam no líder de expressão como uma estrela de grandeza maior, autossuficiente, ao redor da qual gira todo mundo. No entanto, verdadeiros influenciadores, especialmente no contexto cristão, devem cercar-se de outros e até submeter-se a gente que tenha uma medida maior de graça, a fim de levar consigo o respaldo, não só de um chamado de Deus (que é o mais importante), mas de pessoas que operam em maior nível de poder e autoridade. Embora seja um termo desgastado em muitos arraiais, costumo chamar isto de “cobertura” e estou seguro de que faz muita diferença, não só na dimensão espiritual, mas também na natural.
Antes de sair a influenciar os habitantes de Jerusalém com sua visão, Neemias se expôs à influência de Deus (buscando-o em jejum e oração) e exerceu influência sobre seu próprio líder, o rei Artaxerxes. Sei que este também é um conceito pouco explorado, mas o fato de estarmos em submissão à outras pessoas não significa que não possamos ser fonte de uma visão e até influenciá-las com aquilo que Deus plantou em nosso coração. Aliás, desde que o façamos com a postura e o coração corretos, este será o caminho mais viável para o nosso progresso. Talvez, o único.
A vida está cheia disto: mulheres que têm um sonho de Deus, mas só o realizarão se conquistarem seus maridos para o mesmo propósito; filhos que dependem da bênção de seus pais; empregados que precisarão ganhar o respaldo de seus chefes ou patrões; ministros que só avançarão no chamado se trouxerem seus discipuladores para os projetos que têm... Mas como fazer isto, sem ultrapassar a linha da submissão?
Neemias, antes de tudo, conquistou o coração do rei com seu testemunho. Para ousar pedir o nível de respaldo que precisava, este homem andou por longo tempo em fidelidade. O relato bíblico revela o conceito que ele havia adquirido diante de seu líder: “estava posto vinho diante dele, e eu tomei o vinho e o dei ao rei; porém nunca, antes, estivera triste diante dele. E o rei me disse: Por que está triste o teu rosto, pois não estás doente? Não é isso senão tristeza de coração” (Ne 2:1-2). Embora vivesse cativo naquele reino, Neemias servia sempre com alegria, tinha a confiança do rei ao ponto de tornar-se seu copeiro (aquele que experimentava os alimentos antes, para evitar envenenamentos) e por tal testemunho obteve a simpatia de seu líder, chegando ao ponto deste se preocupar com sua aparente tristeza. Lição: conquistamos cobertura pela fidelidade e disposição para servir alegremente.
O segundo segredo de Neemias para conquistar o respaldo que precisava foi expor sem tentar impor seus sentimentos ao rei. Tanto que ele esperou a ocasião correta (embora isso lhe fosse muito penoso) e, sendo-lhe dada a oportunidade colocou, primeiro seus motivos (veja vs. 3), depois seus planos (vs. 5-6) e finalmente suas necessidades (vs. 7-8). Tudo isso ele fez sem forçar a barra, confiando que Deus regeria todo o processo (veja o fim do vs. 4). Sua sujeição à palavra final do líder que o cobria fica explícita em expressões como “se é do agrado do rei” (vs. 5) e “se ao rei parece bem” (vs. 7). Assim Artaxerxes o abençoou.
Com esta postura Neemias marchou para Jerusalém cheio de respaldo. Lá, ao reunir o povo para convertê-lo à visão esse tornou-se um dos seus principais argumentos: “Então, lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, como também as palavras do rei, que ele me tinha dito”(Ne 2:18a)... Conclusão: o líder que tem cobertura influencia muito mais!
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